Lançado oficialmente pelo MEC, o Enamed visa medir a competência dos futuros médicos, garantir um SUS mais qualificado e transformar o ingresso na residência médica no Brasil.
O Brasil inicia uma virada decisiva na avaliação da formação médica. O lançamento do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed) pelo Ministério da Educação (MEC) marca um novo capítulo na história da medicina no país. O exame, obrigatório para estudantes concluintes de Medicina a partir de 2025, unifica os critérios de avaliação acadêmica com os de acesso à residência médica — um passo aguardado há anos por especialistas, gestores de saúde e a própria sociedade.
A proposta é ambiciosa: submeter 42 mil estudantes de Medicina a uma avaliação anual padronizada, conduzida pelo Inep em parceria com a Ebserh. O objetivo não é apenas aferir o conhecimento técnico, mas consolidar um sistema nacional de indicadores que revelem a real qualidade da formação médica oferecida por mais de 300 cursos em todo o território brasileiro.
A iniciativa se estrutura como uma resposta concreta a um dos problemas mais discutidos nos últimos anos: a disparidade entre a formação acadêmica e as necessidades práticas do Sistema Único de Saúde (SUS). Em um país onde há cursos de medicina sem hospital-escola e onde a proliferação de faculdades privadas nem sempre acompanha o rigor acadêmico exigido, o Enamed promete se tornar um divisor de águas.
Para o ministro Camilo Santana, “o médico trata de vidas, e o Brasil precisa garantir uma formação sólida, ética e técnica a esses profissionais”. Já o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforça que a medida aproxima o país dos modelos de excelência internacionais, nos quais a formação é constantemente testada e alinhada com os resultados esperados na prática clínica e no atendimento humanizado.
O Enamed se consolida como um "exame guarda-chuva", integrando as matrizes do Enade (voltado para desempenho acadêmico) com os critérios do Enare (voltado para seleção em residência médica). Essa fusão representa uma mudança histórica na forma como o Brasil valida e reconhece os futuros médicos.
O exame não apenas servirá de filtro para os melhores quadros clínicos, como também permitirá um retrato anual da qualidade de cada instituição formadora. Isso deve obrigar universidades e faculdades a reverem suas práticas, currículos e infraestrutura, sob pena de colocarem em risco a credibilidade de seus diplomas.
Com aplicação prevista em 200 municípios, o Enamed reforça o elo entre a universidade e o SUS, promovendo médicos mais preparados para atuar nas urgências cotidianas do sistema público. A padronização nacional ainda garantirá mais equidade no acesso à residência médica, hoje marcada por desigualdades regionais e critérios distintos.
Ao unificar processos, o MEC busca criar um ciclo virtuoso: quanto melhor a formação, mais qualificado o médico; quanto melhor o médico, maior a confiança da população no sistema de saúde.
No próximo artigo: Como o Enamed pode impactar os cursos de medicina de baixo desempenho?
Uma análise das consequências institucionais para as faculdades que não prepararem seus alunos adequadamente.