A telemedicina trouxe agilidade e praticidade, mas não substitui o exame físico.
Saber quando usá-la pode ser a diferença entre uma boa recuperação e uma tragédia evitável.
Abraão, 52 anos, estava acostumado a lidar com pressão no trabalho. Em um dia particularmente intenso, ele sentiu uma dor incômoda no estômago e, pensando ser uma crise de gastrite, recorreu à telemedicina para não interromper suas obrigações. O médico suspeitou de um possível infarto do miocárdio atípico e recomendou exames imediatos. Abraão ignorou.
Horas depois, desmaiou. A esposa acionou o SAMU. O diagnóstico: infarto agudo. A dor no estômago era o coração pedindo socorro.
Esse caso real ilustra um ponto crucial: a consulta por telefone é útil, mas não pode substituir o exame clínico quando há sinais de alerta.
Quando a telemedicina funciona bem?
Acompanhamento de doenças crônicas já diagnosticadas.
Revisão de exames com histórico conhecido.
Emissão de receitas e continuidade de tratamento.
Avaliação inicial de sintomas leves, sem sinais de gravidade.
Quando é arriscada ou ineficaz?
Primeira avaliação de sintomas vagos ou intensos.
Suspeita de infarto, AVC, apendicite ou dor abdominal persistente.
Quadro alérgico agudo, sangramentos ou alterações visuais súbitas.
Situações em que é necessário escutar o pulmão, aferir pressão, palpar a barriga ou realizar exames imediatos.
O outro lado da linha: a rotina invisível dos médicos
Dr. Olavo, clínico da atenção primária, relata: “Pacientes enviam mensagens às 2 da manhã com fotos de manchas na pele e querem respostas imediatas. Esquecem que nós também temos limites”.
Essa lógica de “médico 24 horas” pressiona profissionais, gera sobrecarga emocional e compromete a qualidade da assistência. O médico precisa descansar, estudar e, principalmente, ser respeitado em seus horários.
Telemedicina com responsabilidade: o que o paciente precisa entender
A teleconsulta tem hora marcada, como qualquer atendimento presencial.
O médico pode (e deve) pedir exames antes de concluir um diagnóstico.
Ignorar uma recomendação médica é perigoso, mesmo quando parece "só uma dor de estômago".
Fotos em baixa qualidade ou ligações com sinal ruim dificultam – e muito – a avaliação.
Consulta online não é plantão: mensagens fora de horário devem respeitar a agenda do profissional.
E quanto à valorização do profissional?
Por trás de cada resposta médica há anos de estudo, especialização e esforço. A cultura do "doutor, só uma dúvida rápida" desvaloriza a profissão e torna a telemedicina uma via de mão única – onde apenas o paciente se beneficia.
É necessário criar limites justos, plataformas seguras e conscientização do público para que a telemedicina siga sendo uma ferramenta eficaz, sem transformar médicos em reféns digitais.
No próximo artigo, vamos falar sobre os sintomas atípicos de infarto que passam despercebidos por milhares de brasileiros – e como reconhecê-los a tempo pode salvar sua vida.