Do diagnóstico ao tratamento, o caminho do paciente oncológico virou um campo de resistência — onde quem sobrevive não é só o mais forte, mas o mais paciente.
TV Saúde — Série Especial | Parte 2
Nos bastidores da saúde pública brasileira, a cena se repete todos os dias: corredores superlotados, cadeiras de rodas improvisadas como leitos, filas que se estendem por semanas, médicos sobrecarregados e pacientes em estado avançado, aguardando por uma vaga, um exame ou uma última esperança.
A oncologia pública virou, na prática, uma triagem de sofrimento.
Os hospitais, mesmo os mais estruturados, não conseguem cumprir os prazos garantidos por lei.
As Leis nº 12.732/2012 e 13.896/2019 estão escancaradamente sendo desrespeitadas — e ninguém responde por isso.
Em muitas cidades do interior, pacientes com suspeita de câncer aguardam por meses para realizar uma simples biópsia. Quando conseguem o diagnóstico, o tratamento já se tornou paliativo.
Em unidades de referência, médicos relatam que já perderam a conta de quantos pacientes viram morrer antes da primeira sessão de quimioterapia. Enfermeiros estão exaustos. Os relatos são unânimes: faltam vagas, remédios, profissionais, estrutura e vontade política.
“O paciente chega com um tumor palpável, visível, e mesmo assim precisa esperar semanas para uma confirmação laboratorial. Quando finalmente conseguimos o laudo, a doença já avançou. Isso é cruel demais”, desabafou uma enfermeira de um hospital público de capital.
Hospitais que deveriam ser centros de combate ao câncer se tornaram locais onde a doença avança livre, alimentada pelo tempo e pelo descaso.
O problema não é novo — mas vem se agravando, silenciosamente, sob o manto de discursos oficiais e campanhas pontuais que não mudam a prática do dia a dia.
A população vê. A imprensa mostra. Os profissionais denunciam.
Mas o sistema não se move.
E enquanto isso, o câncer segue seu curso.
No próximo conteúdo da TV Saúde:
“Quando o Estado Mata em Silêncio: A Responsabilidade Jurídica do Descumprimento das Leis Oncológicas” — um mergulho jurídico nas implicações do não cumprimento das Leis nº 12.732/2012 e nº 13.896/2019.