A conexão entre o que comemos e nossa saúde mental tem sido tema de discussões e estudos nos últimos anos. Uma psiquiatra da Universidade de Maryland levantou uma hipótese interessante sobre o impacto do glúten na saúde cerebral, sugerindo que ele pode ser um fator relevante em transtornos como a depressão e até esquizofrenia. O The Telegraph escreve sobre isso aqui.
Durante a Segunda Guerra Mundial, um estudo revelou que, quando havia escassez de trigo, o número de hospitalizações relacionadas a transtornos mentais diminuía. Isso levantou uma questão crucial: o que estamos comendo pode, de fato, influenciar diretamente nossa saúde mental? A pesquisa conduzida pela psiquiatra mostrou que a relação entre a função cerebral e o glúten é mais forte do que se imaginava.
A psiquiatra revisou trabalhos anteriores, como o do psiquiatra Curtis Dohan, que observou uma melhora nos sintomas de esquizofrenia quando os pacientes adotavam uma dieta sem trigo. Essa constatação levou a um estudo clínico com anticorpos produzidos pelo corpo em resposta ao glúten, revelando que pessoas com esquizofrenia apresentavam níveis elevados de anticorpos contra o glúten.
O glúten é uma proteína encontrada no trigo, cevada e centeio. Para pessoas com sensibilidade ao glúten, o corpo o percebe como uma ameaça, resultando em inflamação. A reação imunológica desencadeada libera anticorpos contra a gliadina, uma proteína do glúten, que prejudica a mucosa intestinal e pode levar a condições como a síndrome do intestino permeável (buracos no intestino).
Esses anticorpos podem entrar na corrente sanguínea e chegar ao cérebro, causando uma série de problemas neurológicos, como "névoa cerebral", fadiga, instabilidade emocional, ansiedade, alterações de humor, alucinações e até convulsões resistentes a medicamentos. Em alguns casos, esses anticorpos podem causar uma reação autoimune, afetando diretamente os tecidos cerebrais.
Além do impacto direto do glúten no cérebro, existe uma ligação entre o intestino e a saúde mental. O intestino é responsável por produzir até 95% da serotonina, neurotransmissor crucial para o controle do humor. Quando o intestino sofre inflamação (como no caso de sensibilidade ao glúten), a produção de serotonina diminui, afetando diretamente o estado emocional da pessoa.
Entre os sintomas mais comuns de sensibilidade ao glúten estão a névoa cerebral, ansiedade, depressão, dores de cabeça ou enxaqueca, e dor nas articulações. Além disso, pessoas com TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) ou esquizofrenia têm maior propensão a desenvolver doença celíaca ou sensibilidade ao glúten não celíaca.
Estudos indicam que até 30% dos pacientes com esquizofrenia possuem anticorpos contra a gliadina, e muitos desses pacientes reportaram uma melhora significativa em seus sintomas após eliminarem o glúten de suas dietas.
A psiquiatra enfatiza que a eliminação do glúten pode ser uma estratégia importante para pessoas com transtornos mentais relacionados à sensibilidade ao glúten, mas destaca que qualquer mudança alimentar deve ser discutida com um médico ou nutricionista. Embora o glúten não seja o culpado de todos os casos de transtornos mentais, para algumas pessoas, ele pode ser um fator desencadeante significativo.
No próximo artigo, exploraremos como a alimentação pode afetar outros aspectos da nossa saúde mental, incluindo os impactos dos alimentos processados na ansiedade e estresse. Não perca!