Um estudo inovador decifra o genoma do vírus da gripe espanhola, revelando mutações que o tornaram mais letal ao se adaptar ao corpo humano. A pesquisa, realizada com RNA preservado há mais de um século, resolve um dos maiores mistérios da história da medicina.
O que por décadas parecia impossível finalmente foi alcançado: cientistas suíços decifraram o genoma completo do vírus responsável pela gripe espanhola, pandemia que assolou o mundo entre 1918 e 1920, ceifando entre 20 e 100 milhões de vidas. A pesquisa, conduzida por equipes das Universidades de Basileia e Zurique, lança uma nova luz sobre como esse vírus mortal evoluiu e se adaptou ao organismo humano.
A cientista Verena Schünemann, paleogeneticista da Universidade de Basel, liderou a equipe que analisou uma amostra viral excepcionalmente preservada em formalina, armazenada por mais de um século. O material fazia parte da coleção médica do Instituto de Medicina Evolutiva da Universidade de Zurique.
“Esta é a primeira vez que conseguimos acessar o genoma do vírus influenza da pandemia de 1918 na Suíça. Isso fornece novos insights sobre sua adaptação ao corpo humano”, explicou Schünemann.
A equipe descobriu três mutações cruciais na cepa suíça do vírus:
Duas mutações permitiram que o vírus resistisse a um importante componente antiviral do sistema imunológico humano, facilitando sua transmissão entre pessoas.
A terceira mutação alterou uma proteína da membrana do vírus, aumentando sua afinidade por receptores celulares humanos.
Essas mudanças genéticas explicam por que o vírus, originado possivelmente em aves ou suínos, conseguiu se tornar altamente contagioso e letal para os humanos em tão pouco tempo.
A complexidade do trabalho também se deu pelo tipo de material genético do vírus da gripe: o RNA, bem mais instável que o DNA. Isso tornou a análise extremamente desafiadora — mas não impossível. A equipe liderada por Christian Urban, da Universidade de Zurique, desenvolveu uma técnica inédita de extração de RNA antigo a partir de tecidos preservados.
“O RNA só sobrevive ao tempo sob condições muito específicas. Com o novo método, conseguimos extrair fragmentos com alta precisão”, relatou Urban.
A descoberta é considerada um avanço histórico na virologia, com implicações diretas para o entendimento da evolução viral e para o combate a futuras pandemias. Compreender como um vírus centenário se adaptou e matou milhões pode ser crucial para antecipar comportamentos de novas cepas virais.
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