Suicídio entre Indígenas: Dor Coletiva e Invisibilidade Histórica

Publicado por: Feed News
06/04/2025 21:34:15
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A juventude indígena sofre calada. É hora de escutar com o coração e agir com respeito à ancestralidade./Ilustração Cortesia Editorial Ideia
A juventude indígena sofre calada. É hora de escutar com o coração e agir com respeito à ancestralidade./Ilustração Cortesia Editorial Ideia

Quando a dor de um se transforma no lamento de muitos

Entre os povos indígenas do Brasil, o suicídio é mais do que um ato individual de desespero. É, muitas vezes, um grito coletivo diante do abandono, da perda de território, da destruição de identidade, da violência e da ausência de políticas públicas culturalmente sensíveis.

Segundo o Ministério da Saúde, 44,8% dos suicídios indígenas ocorrem entre adolescentes de 10 a 19 anos. Uma juventude que deveria estar sonhando, criando e liderando, mas que se vê encurralada por um sistema que não reconhece sua cultura, sua dor e seus direitos.

 

O que os dados revelam (e o que ainda escondem)

  • Entre 2011 e 2015, a taxa de mortalidade por suicídio entre indígenas ultrapassou os 15 por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional.

  • As regiões Norte e Centro-Oeste concentram os maiores índices, com destaque para estados como Amazonas, Roraima e Mato Grosso do Sul.

  • O método mais utilizado é o enforcamento, com alto índice de letalidade.

  • A maioria dos casos ocorre em aldeias com forte ruptura cultural e presença de conflitos territoriais ou ausência de suporte psicossocial.

 

Fatores de risco específicos entre os povos originários

  • Deslocamento forçado de suas terras ancestrais

  • Perda de identidade cultural e espiritual

  • Discriminação estrutural e racismo ambiental

  • Falta de políticas públicas de saúde com abordagem intercultural

  • Exclusão escolar e social

  • Alta exposição a álcool, drogas e violência externa

 

A dor silenciada dos jovens indígenas

Muitos jovens indígenas não se reconhecem mais nem na tradição, nem no “mundo dos brancos”. Ficam em um limbo identitário, sem apoio, sem acolhimento e sem perspectivas. Essa sensação de deslocamento existencial, aliada à violência histórica, faz do suicídio uma expressão extrema de protesto e sofrimento.

 

O que tem funcionado? Iniciativas que salvam vidas

O Ministério da Saúde já implementou ações específicas em territórios indígenas que geraram impacto real:

  • Redução de 10,2% dos óbitos por suicídio onde foram implantadas estratégias de prevenção com protagonismo dos jovens indígenas.

  • Capacitação de 550 profissionais de saúde indígena para atuarem nas linhas locais de cuidado.

  • Oficinas de escuta e diálogo respeitando os saberes tradicionais, em parceria com líderes comunitários.

  • CAPS com atendimento intercultural e equipes multidisciplinares próximas das aldeias.

Essas ações mostram que a prevenção só é possível quando feita em parceria com os povos indígenas, respeitando seus modos de vida e suas espiritualidades.

 

Respeitar os povos originários é também preservar vidas

A luta contra o suicídio indígena passa por demarcação de terras, respeito às línguas nativas, políticas públicas específicas, acesso à saúde com diálogo intercultural e valorização da juventude indígena.

Não se trata apenas de salvar vidas – mas de restaurar dignidades e curar feridas históricas.

 

CVV – Centro de Valorização da Vida atende pessoas de qualquer origem, cultura ou crença. Ligue 188, gratuitamente, em todo o Brasil.

 

No próximo artigo da série: “Autolesão e Tentativas de Suicídio: O S.O.S. que Não Podemos Ignorar”

Vamos abordar a crescente onda de automutilação entre jovens, tentativas recorrentes de suicídio e como a dor psíquica se manifesta no corpo como forma de escape. Um alerta para pais, escolas e serviços de saúde.

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