Gaslighting Médico: Quando a Dor da Mulher é Desacreditada
Quando a Medicina Silencia a Dor Feminina
A negação dos sintomas de mulheres por profissionais de saúde é mais comum do que se imagina — e tem nome: gaslighting médico. Esse termo, importado da psicologia, descreve o processo de invalidar a realidade da outra pessoa, fazendo-a duvidar de sua própria percepção. No consultório, isso se traduz quando a paciente relata dor, incômodo ou sintomas persistentes e é tratada com descrença, desdém ou explicações rasas como “é estresse”, “virose” ou “coisa da sua cabeça”.
Muitas vezes, o diagnóstico vem tarde. Em outras, jamais chega. Algumas mulheres passam anos peregrinando por consultórios até que um exame mais específico ou um olhar mais atento enfim valide aquilo que elas sabiam desde o início: havia, sim, algo errado. Mas por que essa experiência é tão mais frequente entre as mulheres?
Gênero e Desigualdade no Atendimento Médico
Pesquisas revelam que, de forma histórica e sistemática, a medicina subestima a dor feminina. Estudo publicado no Journal of Law, Medicine & Ethics mostrou que homens têm mais chance de receber analgésicos em prontos-socorros do que mulheres com as mesmas queixas. Além disso, condições como endometriose, lúpus, doenças autoimunes e até infartos femininos são frequentemente subdiagnosticadas, pois os sintomas costumam se manifestar de forma diferente das referências tradicionais, baseadas em homens.
O preconceito implícito (ou explícito) em alguns profissionais leva à medicalização inadequada: mulheres recebem mais receitas de ansiolíticos e antidepressivos do que de exames clínicos. Muitas são tratadas como se seus sintomas fossem consequência de um emocional instável.
Casos Reais: Uma Dor Ignorada que Quase Custou a Vida
Um exemplo emblemático foi publicado na própria TV Saúde: a história de uma mulher de 65 anos que relatava há mais de um ano episódios de cansaço, suor noturno, perda de peso e falta de ar. Após inúmeras idas ao consultório, sempre recebia a mesma resposta: “estresse da idade”. Quando finalmente conseguiu ser encaminhada para um especialista, já apresentava um linfoma avançado. A paciente sobreviveu, mas a negligência inicial reduziu suas chances de um tratamento menos agressivo.
O Impacto Psicológico do Gaslighting Médico
A sensação de não ser levada a sério corrói a autoestima, intensifica quadros de ansiedade e depressão e pode fazer com que a mulher desista de procurar ajuda. Quando o próprio sistema de saúde invalida a experiência de dor, ele contribui para uma cadeia de abandono silencioso.
Como Identificar e Reagir ao Gaslighting Médico?
Confie nos seus sintomas: Se algo está errado, não aceite respostas vagas ou que desacreditem sua dor.
Documente suas queixas: Leve anotações com datas, frequência e intensidade dos sintomas.
Busque segunda opinião: Você tem esse direito. Uma nova visão pode trazer luz a um diagnóstico oculto.
Leve acompanhante às consultas: Ter alguém junto pode ajudar a registrar o que foi dito e também reforçar sua fala.
Denuncie casos extremos: O Conselho Regional de Medicina ou a ouvidoria dos hospitais estão ali para acolher esses relatos.
A Responsabilidade é Sistêmica
Falar sobre gaslighting médico é abrir uma ferida — mas também é o primeiro passo para curá-la. Cabe à medicina evoluir, reconhecer seus preconceitos estruturais e acolher com mais escuta ativa, empatia e respeito. Nenhuma mulher deve sair de um consultório se sentindo menor, desacreditada ou louca.
Convite para o próximo artigo relevante:
No próximo artigo da TV Saúde, vamos apresentar um especial sobre as doenças invisíveis mais comuns em mulheres, como endometriose, fibromialgia e doenças autoimunes. Entenda por que essas condições ainda são tão negligenciadas — e como exigir um diagnóstico digno.
R.Sa