Entre o sensacionalismo e o silêncio: qual o caminho certo para a mídia?
O suicídio é um tema extremamente delicado, e a maneira como ele é retratado na imprensa, nas redes sociais, em filmes e séries pode ter consequências reais e graves. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a cobertura irresponsável pode aumentar o risco de novos casos, especialmente entre pessoas vulneráveis ou com histórico de sofrimento psíquico.
Ao mesmo tempo, evitar completamente o assunto também é perigoso. O silêncio contribui para o estigma, o isolamento e a falta de busca por ajuda.
A solução está no equilíbrio ético e na informação responsável.
Efeitos negativos de uma comunicação imprudente
Estudos apontam que:
Detalhar métodos de suicídio pode gerar efeito de imitação (conhecido como Efeito Werther).
Romantizar ou idealizar a morte em reportagens ou obras de ficção pode induzir jovens a achar que “é uma saída”.
Exibir imagens de corpos, cartas de despedida ou cenas explícitas pode agravar o sofrimento de quem já pensa em morrer.
Associar suicídio à fama ou “glória póstuma” distorce a gravidade da situação.
Boas práticas para comunicadores e veículos de mídia
A OMS, o Ministério da Saúde e organizações como a Associação Brasileira de Psiquiatria recomendam:
Não divulgar métodos, locais ou imagens do suicídio
Evitar manchetes sensacionalistas ou termos como “suicídio bem-sucedido”
Não apresentar o ato como solução para problemas pessoais
Sempre incluir informações de prevenção e canais de ajuda, como o CVV (188)
Abordar a complexidade do tema, mostrando que o suicídio é prevenível e multifatorial
Ouvir profissionais de saúde mental ao produzir conteúdos sobre o tema
Cuidar do impacto emocional sobre o público e os familiares da vítima
E as séries, filmes e influenciadores digitais?
Produções como 13 Reasons Why acenderam um debate global: a ficção pode influenciar comportamentos reais. Estudos mostraram que, após a exibição da série, houve aumento de buscas relacionadas a suicídio e também crescimento em números de tentativas entre adolescentes nos EUA.
O recado é claro: quem cria conteúdo precisa entender sua responsabilidade. Isso inclui:
Criadores de vídeos no YouTube
Roteiristas de cinema e TV
Influenciadores nas redes sociais
Jornalistas e colunistas de opinião
O papel dos jornalistas e comunicadores da saúde
Você, que trabalha com conteúdo, tem o poder de salvar vidas ao:
Levar informação útil e empática ao público
Dar voz a especialistas, familiares e sobreviventes
Criar conteúdos educativos que orientem sobre sinais, prevenção e redes de apoio
Lembrar que do outro lado da tela pode estar alguém prestes a desistir
Falar salva – mas só quando feito com responsabilidade
A mídia pode ser uma aliada poderosa na luta contra o suicídio, desde que haja comprometimento com a vida, o respeito à dor do outro e a coragem de informar com ética.
Jornalismo, comunicação e entretenimento não são apenas ferramentas de informação. São instrumentos de cuidado.
Inclua sempre: CVV – Centro de Valorização da Vida | Ligue 188 | Atendimento 24h, gratuito e sigiloso.
No próximo artigo da série: “Suicídio entre Indígenas: Dor Coletiva e Invisibilidade Histórica”
Uma análise profunda sobre a alta taxa de suicídios entre os povos indígenas no Brasil, especialmente entre adolescentes. Vamos tratar de cultura, abandono e estratégias de prevenção respeitando os saberes tradicionais.