Acidentes com motores de barcos continuam mutilando mulheres na Amazônia, em meio a descaso, culpabilização e falta de políticas eficazes de proteção.
O Pará, estado que em breve receberá líderes mundiais para a Conferência da ONU sobre o clima (COP30), convive há décadas com uma tragédia invisível: o escalpelamento.
Esse acidente ocorre quando os cabelos — em sua maioria de mulheres e crianças — ficam presos no eixo exposto de motores de barcos. Em segundos, fios de cabelo são arrancados brutalmente, levando consigo couro cabeludo, orelhas, parte do rosto e até fragmentos ósseos.
Apesar de décadas de alertas, centenas de vítimas continuam surgindo a cada ano. O trauma físico vem acompanhado de marcas emocionais profundas: limitações funcionais, sequelas permanentes e uma dor agravada pelo preconceito. Muitas vezes, as próprias mulheres mutiladas são culpadas pelo acidente, em vez de receberem apoio e acolhimento.
Iniciativas para instalação de protetores de eixo — simples grades metálicas que evitariam a tragédia — ainda avançam lentamente, entre burocracias, falta de fiscalização e desinteresse político. Enquanto isso, comunidades ribeirinhas seguem expostas a uma tragédia evitável.
O escalpelamento não é apenas uma questão de saúde pública, mas de dignidade e direitos humanos. Tornar essa realidade visível é essencial para pressionar por políticas eficazes, garantir assistência às vítimas e evitar que novas vidas sejam marcadas por uma violência que poderia ser prevenida.