Amiloidose: sintomas por órgãos, tipos e os tratamentos que trazem esperança

Publicado por: Feed News
23/09/2025 18:51:18
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Diagnóstico e acompanhamento de amiloidose exigem equipe multidisciplinar; exames como cintilografia cardíaca ajudam a definir o subtipo e orientar o tratamento. / Ilustração Cortesia Editorial Ideia
Diagnóstico e acompanhamento de amiloidose exigem equipe multidisciplinar; exames como cintilografia cardíaca ajudam a definir o subtipo e orientar o tratamento. / Ilustração Cortesia Editorial Ideia

Rara e muitas vezes silenciosa, a amiloidose pode atingir coração, rins, nervos e pele. O diagnóstico precoce, protocolos que controlam a produção de proteínas e novas terapias anti-amiloide ampliam opções e esperança.

 

Introdução — por que a amiloidose merece atenção
“Amiloidose” é um termo-guarda para um grupo de doenças em que proteínas anormais (amiloides) se depositam em órgãos, atrapalhando sua função. Embora rara, a condição pode ser devastadora — afetando coração, rins, sistema nervoso, trato digestivo e pele — e costuma ser confundida com outras doenças, atrasando o diagnóstico.

 

Como a doença se manifesta (sintomas por sistema)
Os sinais dependem do órgão acometido. Entre os mais frequentes:

  • Cardíacos: dispneia de esforço, inchaço de membros, palpitações, cansaço e micção noturna; a amiloidose cardíaca pode evoluir para insuficiência por dificuldade de enchimento do coração.

  • Renais: perda de proteínas na urina (síndrome nefrótica), edema e evolução para insuficiência renal com necessidade de diálise.

  • Neurológicos: neuropatia periférica (formigamento, queimação), disautonomia (alterações da sudorese, tontura), problemas digestivos por disfunção autonômica.

  • Gastrointestinais e perda de peso: diarreia, má absorção, náusea e perda de apetite que levam à perda ponderal acentuada.

  • Cutâneos e musculoesqueléticos: manchas, nódulos, hematomas fáceis, aumento da língua e dores articulares / risco de fraturas.

 

Esses sintomas aparecem de formas distintas: um paciente pode ter dor e neuropatia predominantes; outro, insuficiência renal grave; e um terceiro, manifestação cardíaca predominante — por isso a avaliação individualizada é essencial.

 

Tipos de amiloidose (por mecanismo e implicação clínica)

  • AL (amiloidose por cadeias leves / primária): a forma mais comum; proteínas amilóides produzidas por plasmócitos na medula óssea. Frequentemente associada a mieloma múltiplo e tratada como uma doença de célula plasmática.

  • AA (secundária): associada a processos inflamatórios crônicos (ex.: artrite reumatoide).

  • ATTR (transtirretina): pode ser hereditária (mutação) ou senil; afeta principalmente coração e nervos.

  • β2-microglobulina: associada a diálise de longa duração.

  • Localizada: depósitos restritos a um órgão (p.ex. pele, vias aéreas) com diferente manejo.

 

Como se confirma o diagnóstico

  • Exames laboratoriais: eletroforese, imunofixação, cadeias leves livres no sangue e urina.

  • Biópsia: demonstra os depósitos de amiloide (coloração Congo red e pesquisa do tipo).

  • Imagem: ecocardiograma, ressonância cardíaca, e, para ATTR cardíaca, cintilografia com pirofosfato (99mTc-PYP) que ajuda a diferenciar ATTR de AL quando combinada à exclusão de doença plasmocitária. As orientações de interpretação do PYP são parte das práticas atuais de diagnóstico cardíaco por imagem. 

 

Tratamento — duas frentes: controlar a origem + proteger órgãos

  1. Suprimir a produção da proteína causadora (tratamento da “causa”)

    • Na AL, os regimes que utilizam bortezomibe (Velcade) associados a corticoide e agentes citotóxicos (ex.: ciclofosfamida) continuam sendo pilar terapêutico; a adição de daratumumabe (anticorpo anti-CD38) mudou a prática clínica e melhorou respostas em muitos pacientes. 

    • Em ATTR, as terapias que reduzem a produção de transtirretina (siRNA/siRNA-like drugs como patisiran e vutrisiran) e estabilizadores da TTR (como tafamidis) são opções que atacam a causa no nível molecular. Ensaios recentes mostraram benefícios funcionais e estruturais com essas abordagens. 

  2. Remover ou neutralizar depósitos (terapias anti-amiloide) e suporte dos órgãos

    • Anticorpos anti-amiloide em estudo (por exemplo, CAEL-101) têm mostrado perfil de segurança promissor e sinais de benefício em combinação com terapia anti-plasmocitária, apontando para a possibilidade futura de “remover” fibrilas já depositadas. Estudos clínicos estão em andamento. 

    • Tratamento do órgão acometido: diuréticos para edema no acometimento cardíaco, diálise nos rins quando necessário, transplantes (em casos selecionados) e reabilitação para neuropatia.

 

O que mudou nos últimos anos (pontos de atualização importantes)

  • Daratumumabe tornou-se um agente relevante na primeira linha da AL, melhorando respostas hematológicas e, em muitos casos, respostas de órgão. 

  • Terapias de RNA (patisiran, vutrisiran) e estabilizadores de TTR ampliaram as opções para ATTR, com impacto em qualidade de vida e desfechos (as aprovações e ampliações de indicações evoluíram entre 2022–2025). 

  • A cintilografia com 99mTc-PYP e protocolos padronizados de leitura consolidaram-se como ferramenta diagnóstica crucial para distinguir SUBTIPOS de amiloidose cardíaca sem necessidade de biópsia em muitos casos. 

  • Ensaios com anticorpos anti-amiloide (ex.: CAEL-101 e outros) avançam e prometem combinar supressão de produção + remoção de fibrilas — estratégia dual que pode transformar prognóstico se resultados confirmarem eficácia. 

 

E o estilo de vida — ajuda?
Mudanças no cotidiano não substituem o tratamento médico, mas ajudam muito na qualidade de vida: dieta equilibrada/anti-inflamatória, controle de sal e líquidos em casos cardíaco/renal, atividade física adaptada (caminhadas leves, fisioterapia), sono regulado e suporte psicológico. Essas medidas reduzem sintomas, preservam massa muscular e ajudam a tolerar melhor as terapias médicas.

 

Conclusão — esperança e vigilância
A amiloidose continua sendo complexa e heterogênea, mas os avanços em diagnóstico por imagem, as terapias direcionadas (tanto para AL quanto para ATTR) e os estudos em anticorpos anti-amiloide ampliaram o arsenal terapêutico e aumentaram a esperança para muitos pacientes. O eixo da boa prática permanece: diagnóstico precoce, abordagem multidisciplinar e combinação entre controle da origem + proteção / recuperação de órgãos

 

Fontes consultadas

  • New England Journal of Medicine (2023) — Estudos sobre terapias de RNA em amiloidose ATTR.

  • Blood / American Society of Hematology (2023–2024) — Uso de daratumumabe e bortezomibe em amiloidose AL.

  • Journal of Nuclear Cardiology / ASNC Guidelines (2024) — Diretrizes para cintilografia com 99mTc-PYP em diagnóstico de amiloidose cardíaca.

  • National Institutes of Health (NIH) — Informações gerais sobre sintomas, subtipos e impacto da doença em órgãos.

  • Mayo Clinic Proceedings (2022–2023) — Revisões clínicas sobre manifestações sistêmicas e abordagem multidisciplinar.

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