IBGE confirma o salto do envelhecimento, e o INCA projeta 704 mil casos anuais até 2025. A nova Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer precisa sair do papel com metas, dinheiro e prazos.
O Brasil envelhece mais rápido do que se organiza para enfrentar o câncer. O Censo 2022 mostra que a população com 65+ cresceu 57,4% em 12 anos e o índice de envelhecimento deu um salto histórico. Ao mesmo tempo, o INCA projeta ~704 mil casos novos por ano no triênio 2023–2025. Não é tendência: é pressão real sobre o SUS agora.
Em fevereiro de 2025, o Ministério da Saúde regulamentou a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer. Excelente — mas sem execução, não salva vidas. É hora de transformar norma em entrega: rastrear antes, diagnosticar cedo, tratar sem fila e cuidar sem dor.
1) Rastrear de verdade (modelo organizado, não “oportunista”)
Mama (50–69 anos, a cada 2 anos) com convite ativo, busca de faltosos, laudo padronizado BI-RADS e via rápida para biópsia. (Base: diretrizes nacionais) Inca
Colo do útero: consolidar as novas Diretrizes 2025, com transição ordenada para teste HPV onde couber e rastreio regular com convocação e recall.
Colorretal (50–74 anos): adotar FIT anual/bienal com colonoscopia de seguimento; iniciar pilotos estaduais já em 2026 com metas públicas de cobertura ≥60% em 3 anos. (Inferência alinhada à prática internacional; incluir em planos estaduais e municipais com monitoramento INCA/SVS.)
2) Porta rápida do diagnóstico (T0→Biópsia→Estadiamento)
Metas de tempo máximo: 10 dias para imagem suspeita, 15 dias para biópsia, 30 dias para estadiamento e 60 dias até início de tratamento (com transparência em painel público).
Financiamento carimbado para biópsia guiada, anatomia patológica e imagem avançada, reduzindo o gargalo que empurra casos para estágio avançado. (Meta executiva vinculada à Portaria; publicar indicadores por estado.)
3) Rede oncológica com capacidade real
Contratualizar linhas de cuidado por tumor (mama, próstata, colón, pulmão, colo do útero), ampliando radioterapia e oncologia clínica onde há deserto assistencial.
Habilitar serviços com pagamento por desempenho (tempo-para-tratamento, completude de estadiamento, abandono <5%). (Medida operacional compatível com a Política Nacional.)
4) Prevenção que reduz mortes
Controle do tabaco (reprimeira causa evitável): fiscalização, restrição de aditivos e combate ao mercado ilícito.
Vacinação HPV com busca ativa em escolas (cobertura ≥90%) e campanhas regionais; integrar a rastreamento de colo.
Políticas de obesidade e álcool (ambiente alimentar saudável, rotulagem, tributação inteligente), além de hepatites virais (triagem e tratamento) para conter fígado. (Suporta a meta de reduzir fração atribuível a fatores de risco.)
5) Dados que mandam no dinheiro
Painel nacional aberto (INCA/SVS) com: cobertura de rastreio, tempos de diagnóstico/tratamento, estadiamento ao diagnóstico e sobrevida em 1/5 anos, por município. Recompensas e correções orçamentárias atreladas ao desempenho. 6) Cuidado paliativo como direito
Implementar linhas de cuidado paliativo em todos os CACON/UNACON, com acesso a analgesia, suporte psicossocial e domiciliar — melhora desfechos e usa melhor o recurso. (Integra a atenção integral prevista na Política.)
As projeções demográficas indicam que o Brasil vai envelhecer mais nas próximas décadas — e rápido. Ignorar isso significa aceitar que mais brasileiros morrerão de câncer por diagnóstico tardio. O país não pode perder a janela 2025–2030 para organizar rastreio, reduzir tempos e ampliar capacidade.
Posição editorial da TVSaude.Org:
Chega de piloto eterno e plano sem cronograma. Rastreamento organizado, metas públicas e financiamento amarrado a resultado. É assim que se salva vida — e se protege a geração que hoje envelhece.
Convite para o próximo artigo
No próximo conteúdo, vamos publicar um Guia de Execução em 12 Meses para secretarias estaduais e municipais (checklist, metas trimestrais e planilha de custos por 100 mil habitantes) — pronto para download e uso imediato.
Fontes
IBGE – Censo 2022 e envelhecimento populacional. Agência de Notícias - IBGE+1
Agênciagov/IBGE – projeções de envelhecimento e mudança etária até 2070. Agência Gov
INCA – Estimativa de incidência 2023–2025 (~704 mil/ano). Serviços e Informações do Brasil+2Serviços e Informações do Brasil+2
Ministério da Saúde – Regulamentação da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (fev/2025). Serviços e Informações do Brasil
INCA – Diretrizes de detecção precoce (mama) e atualização do rastreamento do colo do útero (ago/2025). Inca+1