O câncer já tem combustível garantido: a velhice
Estudo da The Lancet prevê mais de 18 milhões de mortes por câncer até 2050, impulsionadas pelo envelhecimento da população mundial.
O alerta é claro e não pode mais ser ignorado. A The Lancet, uma das mais respeitadas revistas médicas do mundo, acaba de publicar dados que confirmam aquilo que a TVSaude.Org vem denunciando: o envelhecimento da população mundial está transformando o câncer na principal causa de morte do século XXI.
Segundo o estudo, entre 1990 e 2023 os casos de câncer mais que dobraram. E o futuro é ainda mais sombrio: até 2050, o número anual de mortes pode ultrapassar 18 milhões, um aumento de quase 75% em relação a hoje. O motivo principal não é apenas a incidência crescente, mas a realidade demográfica: há mais idosos, e com eles, maior vulnerabilidade biológica ao desenvolvimento da doença.
A mensagem é inequívoca: o envelhecimento populacional é hoje o combustível do câncer. Não se trata de uma questão isolada de genética ou azar. Trata-se de uma consequência previsível da longevidade humana. Viver mais, sem políticas eficazes de prevenção e sem acesso a diagnóstico precoce, significa morrer de câncer em proporções alarmantes.
Os pesquisadores apontam ainda que 41,7% das mortes por câncer em 2023 foram atribuídas a fatores de risco modificáveis — como tabagismo, má alimentação, obesidade, poluição e sedentarismo. Isso significa que, embora o envelhecimento seja inevitável, milhões de mortes poderiam ser evitadas com políticas públicas sérias e ações preventivas consistentes.
A desigualdade é outro elemento central. Enquanto países ricos avançam em detecção precoce e tratamentos inovadores, países de baixa e média renda — como o Brasil — correm o risco de enfrentar uma epidemia silenciosa, com milhões de idosos diagnosticados tardiamente e condenados a tratamentos limitados.
Diante desse cenário, é preciso tomar posição. A sociedade deve cobrar políticas de rastreamento mais abrangentes, maior investimento em oncologia e campanhas reais de prevenção. Não se trata de alarmismo, mas de enfrentar com coragem a maior tragédia anunciada da saúde contemporânea.
O futuro está escrito: sem ação, o câncer será a marca da velhice de toda uma geração. Cabe a nós decidir se aceitaremos passivamente ou se transformaremos essa previsão em um chamado para salvar vidas.
No próximo artigo, vamos discutir como o Brasil pode se preparar para esse cenário, analisando quais políticas de saúde são urgentes para evitar que a geração que hoje envelhece seja sacrificada pela falta de prevenção.