Mesmo medicamentos populares podem causar reações perigosas se tomados sem avaliação médica. Conflitos entre conselhos profissionais acirram a discussão sobre quem deve prescrever.
Cada organismo tem sua própria história clínica e metabólica. Um remédio que alivia a dor em uma pessoa pode causar sangramento gástrico, falência renal ou uma reação alérgica grave em outra. A automedicação é uma prática comum no Brasil, mas seus riscos são amplamente ignorados. Pior: conflitos entre conselhos de medicina e farmácia geram um cenário confuso sobre quem tem o direito e a capacidade técnica para indicar medicamentos.
A função médica vai muito além de preencher uma receita. Ele interpreta exames, conhece o histórico completo do paciente, avalia doenças preexistentes, interações medicamentosas e as condições reais de uso. Um bom médico avalia se o paciente tem rins funcionando bem para tomar um anti-inflamatório, ou se sua pressão permitiria o uso de certos descongestionantes. A bula é uma referência – o julgamento clínico é uma obrigação.
Metabolismo lento, problemas no fígado ou nos rins, distúrbios cardíacos ou mesmo a combinação de medicamentos comuns podem gerar reações catastróficas. O que é um simples “analgésico” pode mascarar sintomas de infarto. Uma pomada com corticoide pode piorar uma infecção de pele. O risco não está no nome do medicamento, mas na falta de contexto clínico.
A disputa entre o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Federal de Farmácia (CFF) é antiga. O CFM defende que somente médicos têm preparo suficiente para diagnosticar e prescrever, enquanto o CFF sustenta que farmacêuticos podem indicar medicamentos isentos de prescrição (MIPs) e até mesmo prescrever certos medicamentos com base em protocolos. Essa indefinição coloca o paciente em risco, especialmente se não houver clareza sobre sintomas e histórico pessoal.
Segundo a Fiocruz, mais de 75% dos brasileiros se automedicam regularmente. O cenário inclui desde o uso abusivo de analgésicos até antibióticos tomados por conta própria. Além do risco imediato de efeitos colaterais, essa prática contribui para:
Aumento da resistência bacteriana
Diagnósticos mascarados
Internações por intoxicação
Sobrecarga no sistema de saúde
Cabe aos profissionais de saúde, comunicadores e veículos como a TV Saúde alertar: remédio não é bala, e orientação médica não é luxo – é proteção. Reforçar o papel da medicina como ciência interpretativa, e não mecânica, é essencial num mundo onde a informação está acessível, mas o discernimento ainda precisa ser guiado.
No próximo conteúdo da TV Saúde: “Os 5 medicamentos mais usados sem receita e seus perigos invisíveis” — descubra por que o que parece seguro pode custar caro à sua saúde.