Durante décadas, acreditava-se que o sedentarismo era o principal motor da epidemia de obesidade nos países desenvolvidos. Porém, um novo e abrangente estudo publicado na prestigiada revista científica PNAS acaba de desafiar esse conceito profundamente enraizado.
Pesquisadores analisaram dados de 4.213 pessoas de 34 países, abrangendo caçadores-coletores da Tanzânia, pastores na Sibéria e cidadãos de nações altamente industrializadas, como os Estados Unidos e Europa. Para surpresa geral, os níveis de gasto energético foram similares entre todos esses grupos, independentemente de sua rotina ou estilo de vida.
O estudo utilizou a técnica de "água duplamente marcada", considerada o padrão ouro em medição metabólica, e concluiu que o total de calorias queimadas por dia pouco varia entre populações modernas e tradicionais. A tese reforça o modelo proposto por Herman Ponzer, da Universidade Duke, chamado de modelo de energia limitada, que sugere que o corpo humano ajusta seu metabolismo para manter um gasto energético estável.
Então, por que a obesidade explode nos países desenvolvidos? A resposta está no prato.
Segundo os autores, a ingestão de calorias, principalmente provenientes de alimentos ultraprocessados, tem um impacto dez vezes maior na obesidade do que o nível de atividade física. Alimentos com mais de cinco ingredientes industriais, como refrigerantes, embutidos, snacks e fast foods, estão diretamente associados a um índice de gordura corporal significativamente maior.
O professor Barry Popkin, da Universidade da Carolina do Norte, reforça: “É a dieta, e não a falta de exercício, que está nos adoecendo”. Já Dariusz Mozaffarian, do Food is Medicine Institute, foi direto ao ponto: “As mudanças alimentares, não a atividade física, são os principais causadores da obesidade”.
O estudo não desconsidera a importância dos exercícios para a saúde geral, como prevenção de doenças cardiovasculares e melhora da saúde mental, mas deixa claro que qualquer política pública eficaz contra a obesidade precisa focar na reformulação da dieta populacional, especialmente na redução do consumo de ultraprocessados.
E um alerta adicional: no verão, os riscos de intoxicação alimentar aumentam, especialmente com produtos mal armazenados ou fora do prazo de consumo. Isso se aplica, sobretudo, aos mesmos alimentos industrializados, que contêm conservantes e ingredientes sensíveis à temperatura.
Para combater a obesidade e proteger a saúde, não basta se mover mais — é preciso comer melhor.
No próximo artigo da TVSaude.Org, descubra como os alimentos ultraprocessados impactam o cérebro e o humor – e por que você pode estar viciado sem perceber.