Dia Mundial de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço: A Disparidade no Diagnóstico Precoce no Brasil

Dia Mundial de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço: Desafios e Avanços no Diagnóstico no Brasil

O câncer de cabeça e pescoço é um conjunto de tumores que acometem a cavidade oral, laringe, faringe, cavidade nasal e a tireoide. Este tipo de câncer é particularmente agressivo, e o diagnóstico precoce é crucial para o sucesso do tratamento e a melhora nas taxas de sobrevida. No Brasil, cerca de 80% dos casos são diagnosticados em estágios avançados, o que contribui para um prognóstico desfavorável. O estudo publicado pela The Lancet, conduzido pelo INCA, traz dados importantes sobre a disparidade no estágio de diagnóstico dessa doença no país.

Fatores de Risco e Prevalência no Brasil

O câncer de cabeça e pescoço está intimamente relacionado a fatores de risco comportamentais, sendo o consumo de álcool e tabaco os principais responsáveis pela sua incidência. O efeito desses fatores é ainda mais pronunciado quando estão associados, o que aumenta consideravelmente a probabilidade do desenvolvimento da doença. A infecção pelo HPV também é um fator crescente, principalmente para tumores orofaríngeos, com um aumento da incidência entre os jovens, embora a prevalência de casos HPV-positivos no SUS seja baixa.

Dados Alarmantes:

• Aproximadamente 750.000 novos casos e mais de 360.000 mortes foram estimados em todo o mundo em 2020.

• No Brasil, os tumores de cabeça e pescoço estão entre os 10 mais incidentes entre os homens, refletindo um cenário crítico.

• A detecção precoce ainda é um desafio, com a maior parte dos diagnósticos ocorrendo em estágios avançados, impactando diretamente as taxas de sobrevida.

A Importância do Diagnóstico Precoce

Detectado nos estágios iniciais, o carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço (CECP) pode ter uma taxa de sobrevida global de 75% em cinco anos. A detecção precoce possibilita tratamentos menos invasivos e conservadores, o que reduz os impactos funcionais, estéticos e a toxicidade para os pacientes. No entanto, o diagnóstico ainda ocorre majoritariamente em estágios avançados, o que prejudica essas taxas de sobrevivência e torna os tratamentos mais agressivos.

O Caso do Radialista de Caruaru

O radialista de Caruaru começou a sentir dores na garganta e a sensação de algo preso na língua. Procurou um posto de saúde, e a médica solicitou uma consulta com um otorrinolaringologista. Porém, a demora para a consulta, que ultrapassou 1 ano, levou o paciente a procurar um especialista particular. Foi então que o otorrino indicou uma biópsia, que confirmou a presença de câncer. O médico recomendou buscar tratamento em São Paulo, onde um especialista em cabeça e pescoço confirmou o diagnóstico e realizou uma cirurgia.

O mais alarmante, no entanto, é que a Secretaria de Saúde de Caruaru ainda não havia agendado uma consulta com o otorrino na cidade, mesmo após o diagnóstico inicial, um fato que se estende até 2025. Esse caso é um exemplo claro das dificuldades enfrentadas por muitos brasileiros no sistema público de saúde, onde a demora no atendimento e no diagnóstico precoce compromete as chances de um tratamento eficaz.

Desafios Sociais e Econômicos

A maioria dos pacientes com CECP no Brasil é diagnosticada no Sistema Único de Saúde (SUS), onde fatores como a baixa prevalência de tumores orofaríngeos HPV-positivos, o acesso restrito a tratamentos avançados e a falta de recursos para diagnósticos precoces dificultam a detecção em estágios iniciais. Além disso, a população mais vulnerável, com menor acesso a cuidados médicos, tende a apresentar taxas mais altas de diagnóstico tardio.

Fatores Demográficos e Clínicos

O estudo do INCA revelou que fatores como idade, sexo, raça/etnia, status socioeconômico e histórico de tabagismo estão intimamente ligados ao estágio de diagnóstico da doença. A localização do tumor também desempenha um papel importante, visto que determinados tipos de câncer de cabeça e pescoço podem ser mais difíceis de detectar devido à sua localização ou ao crescimento silencioso dos tumores.

O Papel da Prevenção e da Educação

Para reduzir o impacto desse tipo de câncer, é essencial focar em campanhas de conscientização que promovam a prevenção, a educação sobre fatores de risco (como o tabagismo e o álcool) e o incentivo à detecção precoce. A vacinação contra o HPV, por exemplo, é uma ferramenta fundamental na prevenção dos tumores orofaríngeos, especialmente em jovens, embora ainda haja um grande caminho a percorrer no que diz respeito à sua implementação no SUS.

Conclusão: Rumo à Mudança

O estudo publicado pela The Lancet revela uma realidade preocupante, mas também destaca a importância de melhorar as taxas de diagnóstico precoce no Brasil. É fundamental que o sistema de saúde, juntamente com ações governamentais e educacionais, invista em políticas públicas de prevenção, diagnóstico e tratamento para que a disparidade no estágio do diagnóstico de tumores de cabeça e pescoço no Brasil seja minimizada.