A saúde de qualquer ser humano não deve ser usada como palco para previsões públicas ou julgamentos apressados. O caso Joe Biden reacende o debate sobre o limite entre informação e desrespeito.
A recente divulgação do diagnóstico de câncer de próstata com metástase óssea do ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, levantou um alarme não apenas médico, mas ético e humano. Em vez de promover empatia e respeito, o episódio se transformou em um espetáculo de previsões cruéis e julgamentos públicos, especialmente após as declarações do Dr. Ronny Jackson — ex-médico da Casa Branca.
Jackson afirmou, com base em conversas com urologistas, que Biden teria entre 12 a 18 meses de vida. Uma previsão feita sem acesso ao prontuário do paciente, sem ser especialista na área e, principalmente, sem autorização do próprio Biden. A exposição do quadro clínico de uma figura pública é, em si, um tema sensível. Mas quando essa exposição carrega um tom fatalista e sensacionalista, ela ultrapassa os limites da medicina ética e do jornalismo responsável.
A medicina moderna reconhece que mesmo cânceres metastáticos, como o de próstata, podem ser tratados com sucesso por muitos anos, sobretudo quando a doença é hormônio-dependente, como no caso mencionado. Existem novas terapias, recursos de imunologia e medicina personalizada que têm modificado o prognóstico de muitos pacientes, oferecendo não apenas tempo de vida, mas qualidade de vida.
Por isso, transformar um diagnóstico em sentença pública é desumano. Não há ciência ou compaixão em declarar um tempo de vida a um paciente, muito menos quando esse anúncio é feito a milhões de pessoas. É preciso lembrar que o câncer não define a dignidade de um indivíduo, e ninguém tem o direito de arrancar-lhe a esperança.
É justamente nesse ponto que a imprensa e os profissionais da saúde devem refletir. A dor do outro não deve ser manchete sem contexto, nem material para disputas políticas, tampouco terreno para especulações irresponsáveis. O papel da saúde pública e da medicina é tratar, apoiar e respeitar — nunca julgar, muito menos condenar.
Joe Biden, como qualquer outro paciente oncológico, merece privacidade, dignidade e acompanhamento baseado na ciência, não no palpite. Que esse caso sirva de alerta para que nunca nos esqueçamos do valor da vida humana acima de tudo.
No próximo editorial da TV Saúde:
“Quando o Microfone Machuca: Como o Sensacionalismo Médico Impacta Pacientes e Suas Famílias” — entenda como declarações públicas podem agravar quadros emocionais e minar tratamentos eficazes.