Realidade Virtual na Medicina: O Futuro Sem Dependência de Cadáveres?
No primeiro artigo desta série, mostramos como cadáveres se tornaram mercadoria em um mercado global. O problema central é claro: médicos precisam de corpos para treinar, mas a falta de regulamentação abre espaço para abusos e exploração.
A questão agora é: será que a tecnologia pode mudar esse cenário?
Em 2023, a Case Western Reserve University, nos Estados Unidos, deu um passo ousado: retirou corpos humanos de seus programas de treinamento médico e os substituiu por simulações em realidade virtual.
Segundo o professor Mark Griswold, a mudança trouxe vantagens:
Modelos em 3D oferecem uma visão cristalina das estruturas anatômicas.
Estudantes podem explorar o corpo humano de forma interativa, com infinitas repetições sem desgaste.
Há redução de custos com preservação e transporte de cadáveres.
Apesar dos avanços, especialistas alertam: a realidade virtual ainda não substitui por completo a experiência prática em corpos reais.
Isso porque:
Texturas, resistência dos tecidos e a distinção entre nervos e vasos sanguíneos são detalhes difíceis de reproduzir digitalmente.
Situações reais de cirurgia envolvem variações imprevisíveis que só o contato com carne e sangue proporciona.
Assim, a tendência é que a tecnologia complemente — e não substitua totalmente — o uso de cadáveres nos próximos anos.
Com os avanços da inteligência artificial, gráficos hiper-realistas e simulações táteis, é provável que em poucas décadas os cadáveres sejam menos necessários. Isso traria benefícios importantes:
Mais dignidade na morte: reduzindo o comércio global de corpos.
Acesso democrático: universidades em países pobres poderiam treinar sem depender de doações ou importações.
Avanço contínuo: modelos virtuais podem ser atualizados com dados de milhões de exames e cirurgias reais.
O uso de cadáveres em aulas de anatomia ainda é comum no Brasil, e o debate sobre realidade virtual é incipiente. Mas, diante do comércio global revelado pela BBC (link aqui), a reflexão é urgente: queremos continuar dependentes de práticas arriscadas e eticamente duvidosas, ou investir em soluções tecnológicas que assegurem dignidade e transparência?
No próximo artigo da série na TV Saúde: “Corpos Não Reclamados: o destino de quem morre sem família e o dilema da dignidade na morte”