O elo oculto entre obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares — e por que prevenir ainda é o melhor remédio.
O coração humano é uma bomba de vida, mas também um espelho das nossas escolhas. A ciência moderna tem mostrado que o excesso de peso, o estresse constante e a predisposição genética podem se entrelaçar em um mesmo fio de tragédias: as chamadas doenças cardiometabólicas, um grupo que une obesidade, diabetes tipo 2 e distúrbios cardiovasculares como infarto e derrame.
De acordo com o The Lancet, essas doenças já são a principal causa de morte no planeta. O termo “cardiometabólico” traduz a dupla ameaça: “cardio”, o coração e os vasos; “metabólico”, o sistema que transforma alimentos em energia.
Quando essa engrenagem falha — por má alimentação, sono insuficiente, sedentarismo ou fatores genéticos — o corpo começa a armazenar gordura e açúcar de forma descontrolada. A insulina, hormônio que deveria “abrir as portas” das células para receber energia, perde eficácia. O açúcar fica no sangue, e o diabetes tipo 2 começa a se instalar.
O endocrinologista Dr. Carlos Bezinoto, de Ribeirão Preto, explica que o problema vai além das calorias. “Não é apenas o quanto comemos, mas o que comemos”, alerta.
Dietas ricas em gordura saturada e açúcares refinados favorecem o acúmulo de colesterol nas artérias, formando placas que impedem o fluxo de sangue. Quando uma dessas placas se desprende, pode causar infarto ou AVC.
O risco aumenta com a idade, já que o metabolismo desacelera. “O que não faz mal aos 30, pode matar aos 60”, enfatiza o médico.
Mesmo quem se alimenta bem pode carregar uma bomba genética: genes que reduzem a sensibilidade à insulina ou aumentam a produção de colesterol. Em pessoas com predisposição, pequenas variações de peso ou períodos de estresse intenso são suficientes para acionar o gatilho.
O estresse, a ansiedade e as noites mal dormidas inflamam o organismo e desregulam o metabolismo — abrindo espaço para o ciclo vicioso de obesidade, pressão alta e diabetes.
A cardiologista entrevistada explica que há dois caminhos típicos para o colapso cardiometabólico:
Via metabólica: má alimentação, sedentarismo, ganho de peso → resistência à insulina → obesidade → hipertensão → diabetes.
Via cardíaca: doença coronária oculta → fadiga → menos atividade física → ganho de peso → descontrole de glicose.
Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: inflamação crônica e risco duplicado de infarto e AVC.
De 2020 a 2024, segundo dados do NHS britânico, pacientes com diabetes tipo 2 registraram 88.800 infartos e 39.000 derrames. No Brasil, o cenário é semelhante — e agrava-se pela falta de acesso a testes e acompanhamento.
A boa notícia: as doenças cardiometabólicas são reversíveis quando tratadas no início.
Os melhores resultados surgem com abordagem integrada:
reeducação alimentar (modelo mediterrâneo),
atividade física regular,
controle do estresse,
sono reparador,
acompanhamento multidisciplinar (cardiologista, endocrinologista, nutricionista, psicoterapeuta).
Medicamentos modernos ajudam a reduzir o apetite e controlar o açúcar, mas o verdadeiro sucesso vem do engajamento do paciente. “Sem autocontrole e monitoramento, não há tratamento eficaz”, reforça a médica.
A Federação Internacional de Diabetes estima 589 milhões de casos no mundo — 90% do tipo 2. O número cresce ano após ano.
A prevenção passa por políticas públicas, educação alimentar e acesso a exames.
Enquanto governos debatem custos, vidas continuam sendo perdidas por falta de informação e de disciplina.
Aviso importante:
As informações apresentadas neste material têm caráter educativo e informativo. Não substituem o diagnóstico médico. Para avaliação individual e tratamento adequado, consulte seu médico.
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No próximo tema da TV Saúde: “Os novos medicamentos que estão revolucionando o tratamento do diabetes tipo 2 e como eles também protegem o coração.”