Pesquisadores apontam uma “epidemia global emergente” de câncer entre jovens e alertam: os hábitos alimentares modernos podem ser um dos principais culpados.
Os diagnósticos de câncer em pessoas com menos de 50 anos estão aumentando a uma velocidade alarmante, segundo estudo publicado no JAMA Network Open. A tendência preocupa oncologistas de todo o mundo, que já classificam o fenômeno como uma “epidemia global emergente”.
Entre os tipos mais frequentes, os cânceres gastrointestinais, especialmente o colorretal, lideram o avanço entre os mais jovens. E embora as causas não estejam totalmente claras, uma das principais hipóteses científicas aponta para a alimentação ultraprocessada — característica marcante da dieta moderna.
Alimentos ultraprocessados, como biscoitos, embutidos, lanches prontos e refrigerantes, representam cerca de 73% da oferta alimentar no Brasil. Feitos de ingredientes refinados e aditivos químicos, esses produtos alteram o equilíbrio da microbiota intestinal e favorecem inflamações crônicas — dois fatores reconhecidamente ligados à origem de tumores.
O epidemiologista Dr. Tomotaka Ugai, da Harvard Medical School, explica que dietas ricas em ultraprocessados “aumentam a resistência à insulina e a inflamação sistêmica, criando um ambiente propício para o câncer colorretal”.
De forma semelhante, o hematologista colaborador da TVSaude.Org reforça:
“Dietas saudáveis com frutas, vegetais e grãos integrais, e que limitam carnes processadas e bebidas açucaradas, reduzem substancialmente o risco de câncer.”
Um estudo conduzido pelo National Institutes of Health mostrou que pessoas submetidas por duas semanas a uma dieta ultraprocessada ingeriram 500 calorias a mais por dia e ganharam peso rapidamente — mesmo consumindo alimentos com valores nutricionais semelhantes aos do grupo controle.
O resultado sugere que os ultraprocessados podem interferir na comunicação entre o intestino e o cérebro, afetando o controle natural da fome.
A obesidade e o sobrepeso, por sua vez, estão associados a pelo menos 13 tipos diferentes de câncer, segundo a OMS. Além disso, o baixo consumo de fibras — consequência natural da alimentação industrializada — reduz um importante fator protetor contra tumores no intestino e nas mamas.
Além dos ultraprocessados, as carnes vermelhas e processadas (como bacon, salsicha e presunto) permanecem entre os maiores vilões. Os nitratos e nitritos usados como conservantes podem gerar compostos cancerígenos no trato digestivo, aumentando o risco de câncer gastrointestinal, de próstata e de mama.
“Quando o consumo desses produtos cresce, geralmente ocorre uma redução proporcional de frutas, verduras e grãos integrais”, explica o oncologista Dr. Luke Chen, da City of Hope, Califórnia.
Embora não haja uma “dieta anticâncer” garantida, há consenso de que hábitos alimentares equilibrados reduzem significativamente os riscos.
A recomendação dos especialistas inclui:
Priorizar alimentos naturais e minimamente processados;
Aumentar o consumo diário de fibras (de 25 a 36g para adultos);
Reduzir carnes vermelhas e processadas;
Evitar bebidas açucaradas e excesso de gorduras trans;
Fazer exames preventivos e manter peso corporal saudável.
A prevenção ainda deve incluir vacinação contra HPV e hepatite B, importantes fatores na origem de cânceres de colo uterino e fígado.
O câncer precoce é multifatorial: envolve genética, ambiente e estilo de vida. Mas se há algo ao nosso alcance, é a mudança alimentar.
Repensar o que colocamos no prato é um ato de autopreservação — e talvez, de sobrevivência coletiva.
Na dúvida, lembre-se de uma regra simples: quanto mais industrializado o alimento, mais distante da saúde você está.
Entenda os principais tipos de câncer
Os carcinomas são a categoria mais comum de tumores sólidos malignos, representando entre 85% e 95% dos casos. Eles se formam nas células epiteliais, que revestem a pele, os órgãos internos e as cavidades do corpo.
A outra categoria são as neoplasias hematológicas, que correspondem a cerca de 10% dos cânceres e afetam o sangue e a medula óssea (como leucemias e linfomas).
Já os sarcomas, que surgem nos tecidos conjuntivos — ossos, músculos e cartilagens — são mais raros, representando 1% dos cânceres em adultos e até 15% em crianças.
No próximo artigo da TVSaude.Org, vamos revelar como a microbiota intestinal pode ser a chave para entender a origem de muitos tipos de câncer — e por que cuidar do intestino pode salvar vidas.