Quando a cura não interessa: a ausência de educação nutricional nos tratamentos oncológicos revela um dilema econômico que envolve hospitais, farmacêuticas e a própria estrutura do SUS.
No Brasil, milhares de pacientes passam por quimioterapias todos os dias. Enquanto recebem medicamentos altamente custosos, quase nunca são convidados a participar de uma aula simples sobre mudanças alimentares consagradas e recomendadas pela ciência como coadjuvantes no tratamento. Essa ausência não é um detalhe irrelevante: é um sintoma de um sistema que parece priorizar o prolongamento da doença em vez da promoção da cura.
Estudos internacionais — como os do World Cancer Research Fund e do Instituto Americano de Pesquisa do Câncer — já comprovaram que uma alimentação baseada em vegetais, frutas, fibras e redução de ultraprocessados pode melhorar a resposta às terapias, reduzir efeitos colaterais e até aumentar a sobrevida. No entanto, nas clínicas e hospitais brasileiros, esse conhecimento raramente se transforma em prática educativa.
A explicação para esse silêncio pode estar além da falta de protocolos. Há um fator incômodo: interesses econômicos.
Para a indústria farmacêutica, cada ciclo de quimioterapia, cada ampola de imunoterapia e cada medicamento de suporte significam faturamento.
Para os hospitais privados, leitos ocupados e pacientes em tratamento prolongado mantêm a receita constante.
Já para o SUS, o impacto é o contrário: quanto mais longos os tratamentos, maiores os gastos públicos — recursos que poderiam ser aplicados em prevenção e educação em saúde.
Surge então o paradoxo: curar rapidamente não é bom negócio para quem lucra com a doença, mas é essencial para o paciente e para a sociedade.
Se hospitais e clínicas incorporassem programas de educação nutricional obrigatória, com palestras, vídeos ou até mesmo oficinas culinárias simples:
Pacientes poderiam se recuperar mais rápido.
O SUS economizaria bilhões em gastos desnecessários.
Haveria menos internações por complicações evitáveis.
Mas essa lógica preventiva e integrativa não interessa ao modelo atual, que enxerga o paciente como consumidor de terapias — e não como ser humano capaz de se fortalecer pela informação.
Enquanto a nutrição seguir relegada a uma função secundária e invisível, a quimioterapia continuará sendo vista como um caminho único e interminável. E isso levanta a questão que poucos têm coragem de fazer: estamos tratando o câncer ou estamos tratando do negócio do câncer?
No próximo artigo da TVSaude.Org: “A Nutrição como Arma Esquecida no Combate ao Câncer: o que a ciência já sabe e os hospitais ignoram”