Da irritação à inovação: como os novos retinóides prometem rejuvenescimento sem descamação, impulsionam bilhões na indústria da beleza e levantam dúvidas sobre seus riscos reais
Durante décadas, os retinóides — derivados da vitamina A — foram o padrão-ouro dos cuidados antienvelhecimento. Aplicados topicamente, eles estimulam a renovação celular, aumentam a produção de colágeno e reduzem manchas, rugas e acne. No entanto, o que antes era restrito a prescrições médicas e fórmulas manipuladas agora movimenta uma indústria bilionária, que busca incessantemente versões mais seguras e agradáveis ao consumidor.
Os retinóides atuam acelerando o ciclo de renovação das células da pele. Em vez de levar semanas para eliminar as células mortas, o processo é reduzido a poucos dias, revelando uma pele mais lisa e uniforme. Essa ação também estimula os fibroblastos, responsáveis pela produção de colágeno — proteína que dá firmeza e sustentação à pele.
O retinol é o derivado mais conhecido e usado em cosméticos. Já os retinóides de prescrição, como a tretinoína e o adapaleno, possuem ação mais intensa e resultados mais rápidos, mas também maior risco de irritação, descamação e sensibilidade.
Nos últimos anos, surgiram os chamados retinóides de nova geração, como o retinaldeído e o granactive retinoid. Essas moléculas são mais estáveis, menos agressivas e prometem resultados equivalentes com menor risco de efeitos adversos.
A inovação não está apenas nas fórmulas, mas também nas tecnologias de liberação gradual, que permitem que o ativo seja absorvido de forma contínua e controlada, reduzindo a chance de inflamação.
As grandes marcas perceberam que o público está disposto a pagar mais por conforto e resultados rápidos — e por isso investem pesado em pesquisa. Empresas como L’Oréal, Estée Lauder e Shiseido já têm laboratórios próprios focados em bioengenharia de retinóides.
Segundo dados da Grand View Research, o mercado global de produtos com retinóides ultrapassou US$ 3,5 bilhões em 2024, com projeção de crescimento anual de 9,4% até 2030. O motivo? A demanda crescente por soluções eficazes contra o envelhecimento sem procedimentos invasivos.
A estratégia das marcas é clara: transformar o ativo — antes temido por dermatologistas e pacientes — em um produto de luxo, associado à ciência e inovação, e não à vermelhidão ou descamação.
Nem todos os retinóides são iguais, e nem todas as peles toleram o ativo. O uso incorreto pode causar dermatite, descamação intensa e sensibilidade ao sol. Além disso, a aplicação concomitante com ácidos esfoliantes ou vitamina C pura pode potencializar irritações.
Os especialistas recomendam introduzir o ativo lentamente — duas vezes por semana no início — e sempre com hidratação adequada e protetor solar diário.
Também é importante saber: gestantes e lactantes não devem usar retinóides, mesmo os cosméticos de baixa concentração.
Estudos mostram que, quando usados corretamente, os retinóides reduzem rugas finas em até 40% após oito semanas e uniformizam a textura da pele. Porém, muitos produtos vendidos como “suaves” têm concentrações tão baixas que o efeito é mais sensorial do que terapêutico.
A ciência é clara: o retinóide certo, na concentração certa, é um dos poucos ativos com eficácia comprovada contra o envelhecimento. Mas a promessa de rejuvenescimento “sem irritação” ainda é um desafio que o marketing abraça com entusiasmo — e que a ciência persegue com cautela.
No próximo artigo da TVSaude.Org, vamos revelar quais ativos naturais estão sendo estudados como substitutos aos retinóides — e se eles realmente funcionam como alternativa segura ao rejuvenescimento químico.