Com tratamentos cada vez mais personalizados, ensaios clínicos e novas moléculas promissoras, pacientes com esclerose múltipla ganham fôlego diante de uma doença que, até pouco tempo atrás, era sinônimo de estagnação.
Embora a esclerose múltipla (EM) ainda não tenha cura, os avanços da medicina nos últimos 10 anos mudaram radicalmente o cenário para quem convive com a doença. Se antes a única opção era aguardar a próxima crise e tratá-la com corticoides, hoje é possível retardar a progressão da EM, evitar novas lesões e preservar funções motoras e cognitivas por décadas.
O tratamento atual é baseado em medicamentos imunomoduladores e imunossupressores, que controlam a resposta autoimune que danifica a bainha de mielina dos neurônios. Mas o futuro vai além disso — e já começou a ser escrito.
1. Terapias com anticorpos monoclonais
Drogas como Ocrelizumabe, Alemtuzumabe e Natalizumabe têm apresentado excelente desempenho no controle de formas agressivas de EM. Elas atuam inibindo células específicas do sistema imunológico e são especialmente indicadas para pacientes que não respondem ao tratamento convencional.
No Brasil, o Ocrelizumabe já foi aprovado pela Anvisa e vem sendo incorporado por planos de saúde e protocolos hospitalares. Seu uso reduz drasticamente o número de surtos e retarda a incapacidade progressiva.
2. Drogas orais e mais acessíveis
Medicamentos como Fumarato de dimetila, Fingolimode e Cladribina oral são alternativas eficazes para pacientes que não toleram infusões intravenosas. A vantagem está na praticidade do uso e na maior adesão ao tratamento.
A chegada dessas opções revolucionou a vida de quem precisa continuar trabalhando ou estudando, pois exigem menos idas ao hospital e têm menos efeitos adversos em comparação com os medicamentos mais antigos.
3. Terapias em estudo promissor
Duas linhas de pesquisa merecem destaque:
Reparação da mielina danificada: Ensaios com medicamentos que promovem remielinização — isto é, a reconstrução da camada protetora dos neurônios — estão em fases intermediárias. Um exemplo é o Opicinumabe, que busca restaurar a função neurológica e não apenas interromper a degeneração.
Vacinas terapêuticas: Diferente de uma vacina preventiva, esse tipo de imunoterapia busca reeducar o sistema imunológico do paciente para que ele pare de atacar seus próprios nervos. Estudos conduzidos na Europa e em Israel vêm mostrando resultados preliminares animadores.
4. A realidade brasileira
Apesar dos avanços, os desafios persistem. Muitos pacientes relatam dificuldade para acesso a novos medicamentos pelo SUS. A judicialização do tratamento ainda é a única saída para quem precisa de drogas de alto custo fora do protocolo nacional.
Segundo neurologistas ouvidos por nossa equipe, o acesso precoce aos medicamentos certos é decisivo para evitar sequelas irreversíveis: "Cada surto não tratado corretamente representa um passo a menos, um risco maior de deficiência, de perda de autonomia. O diagnóstico precoce e a terapêutica imediata salvam qualidade de vida."
5. Esperança fundamentada na ciência
A boa notícia é que o número de pesquisas sobre esclerose múltipla nunca foi tão alto. Hoje, são mais de 300 estudos clínicos ativos no mundo — muitos abertos à participação de brasileiros. Além disso, novas tecnologias de imagem permitem diagnósticos mais rápidos e precisos, possibilitando o início do tratamento logo após os primeiros surtos.
Convite para o próximo artigo
No próximo artigo da série, vamos mergulhar na vida cotidiana de quem convive com a esclerose múltipla: como se adaptar à rotina, lidar com a fadiga, encontrar apoio emocional e continuar a viver com propósito.