Exames Demais? O Risco Invisível do Excesso de Diagnósticos na Medicina Moderna

Publicado por: Feed News
16/12/2025 09:00:00
Exibições: 28
O efeito colateral da tecnologia: mais exames revelam mais achados, mas nem todos representam doença real.
O efeito colateral da tecnologia: mais exames revelam mais achados, mas nem todos representam doença real.

Exames Demais? O Risco Invisível do Excesso de Diagnósticos na Medicina Moderna

 

Na última década, o número de exames de imagem realizados no mundo cresceu de forma acelerada. Tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas e ecografias tornaram-se tão acessíveis e tão sensíveis que passaram a revelar detalhes do corpo humano jamais vistos antes. Embora isso pareça um avanço natural e desejável, especialistas alertam: o excesso de exames pode criar doenças que, na prática, não existiriam.

 

A medicina moderna, impulsionada por tecnologia, vive um paradoxo: quanto mais olhamos para dentro do corpo, mais anomalias encontramos. Mas nem toda anomalia é doença — e tratá-las indiscriminadamente pode gerar consequências graves, desgaste emocional, sequelas e custos elevados.

 

Quando investigar demais se torna um risco

Exames sofisticados identificam:

  • nódulos milimétricos,

  • cistos benignos,

  • microtumores indolentes,

  • alterações que nunca causariam sintomas,

  • achados incidentais sem relevância clínica.

Esses achados, conhecidos como incidentalomas, são tão comuns que já existe literatura científica dedicada exclusivamente ao tema. O problema é que cada imagem suspeita desencadeia uma cascata de novos exames, biópsias e até cirurgias — muitas vezes desnecessárias.

 

E, quando o paciente escuta a palavra “lesão”, “nódulo” ou “suspeita”, a ansiedade aumenta e a pressão por agir rapidamente cresce.

 

A cultura do “quanto mais, melhor” não funciona na saúde

A crença de que exames em excesso representam segurança absoluta é enganosa. Estudos mostram que, ao contrário:

  • Aumentam diagnósticos que nunca causariam problemas,

  • Geram tratamentos desnecessários,

  • Elevam custos pessoais e do sistema de saúde,

  • Criam medo, angústia e dependência de monitoramento constante,

  • Podem levar a sequelas permanentes decorrentes de intervenções.

É o fenômeno conhecido como sobrediagnóstico.

 

O impacto dos exames na epidemia de câncer em jovens

Como discutido nos primeiros artigos da série, vários tipos de câncer parecem estar “aumentando” — mas a mortalidade não está. Em grande parte, isso ocorre porque a medicina está vasculhando o corpo humano como nunca antes.

Exemplos:

  • Câncer de tiroide na Coreia do Sul: diagnósticos explodiram, mas mortes permaneceram estáveis.

  • Nódulos pulmonares detectados incidentalmente: a maioria nunca evolui para doença clinicamente significativa.

  • Tumores de próstata de baixo risco: frequentemente não exigem tratamento imediato.

A tecnologia está encontrando tumores que sempre existiram, mas que não precisariam ser tratados.

 

Por que pedimos tantos exames?

Vários fatores contribuíram para esse cenário:

✔ Medicina defensiva

Profissionais receiam processos judiciais e pedem exames “para garantir”.

✔ Pressão dos pacientes

Diante da ansiedade e do acesso à informação, muitos exigem exames mesmo sem indicação clínica.

✔ Tecnologia cada vez mais sensível

Equipamentos detectam alterações irrelevantes que, no passado, jamais seriam descobertas.

✔ Cultura de rastreamento

A ideia de que “prevenir é sempre melhor que remediar” se distorceu em alguns contextos e virou “examinar tudo, sempre”.

✔ Interpretação exagerada de queixas inespecíficas

Cansaço, dor cervical ou desconfortos leves geram investigações profundas desnecessariamente.

 

Qual o custo do excesso de diagnósticos?

Além do impacto emocional, o excesso de exames pode provocar:

  • cirurgias desnecessárias,

  • infertilidade,

  • danos a órgãos,

  • sequelas de biópsias,

  • radiação acumulada,

  • uso inadequado de recursos,

  • estigmatização do paciente como “doente” quando está saudável.

Exames são fundamentais — mas devem ser usados com critério clínico, não como rotina universal sem sintomas.

 

O caminho para um novo equilíbrio

A solução não é abandonar exames; é aprender quando eles realmente fazem diferença.

Especialistas defendem estratégias como:

✔ Diretrizes mais claras para exames de rotina

Evitar investigações complexas em pacientes sem sintomas.

✔ Educação do público sobre risco real vs. risco percebido

Nem todo nódulo é uma ameaça.

✔ Discussão detalhada entre paciente e médico

Explicar o porquê do exame, o que pode ser encontrado e o que significam os achados.

✔ Evitar “caçar anomalias”

Apenas examinar o que faz sentido clinicamente.

✔ Racionalizar o rastreamento

 

Programas de rastreamento devem ser específicos, baseados em evidências e voltados para grupos de risco.

A medicina moderna caminha para um modelo mais inteligente, guiado por dados e equilíbrio — onde encontrar mais não significa necessariamente curar mais.

 

No próximo conteúdo desta série, vamos aprofundar como distinguir tumores indolentes de tumores agressivos, o que a ciência já sabe sobre essa diferenciação e por que isso pode transformar a forma como tratamos o câncer no futuro.

Vídeos da notícia

Imagens da notícia

Tags: