A evolução da oncologia permite identificar com mais precisão se um tumor precisa de tratamento imediato ou se pode ser acompanhado com segurança.
Tumor Agressivo ou Indolente? Como a Medicina Identifica o Comportamento do Câncer
Quando um câncer é diagnosticado, uma das perguntas mais importantes — e ao mesmo tempo mais difíceis — é: “Esse tumor vai crescer rápido e colocar a vida em risco, ou ele é indolente e pode ser acompanhado sem urgência?”
Essa resposta define o tipo de tratamento, a intensidade das intervenções e até o impacto emocional vivido pelo paciente.
A medicina avançou enormemente no entendimento do comportamento tumoral, mas nenhum exame isolado consegue prever com 100% de precisão como um tumor irá se comportar. Em vez disso, os especialistas combinam uma série de informações para estimar o risco individual de cada caso. Este artigo explica, de forma clara, como essa avaliação é feita.
O primeiro grande marcador do comportamento tumoral é o grau de diferenciação, analisado por patologistas.
Parecem mais próximas do tecido normal → tendem a ser tumores indolentes.
Têm forma alterada, se multiplicam rápido → maior probabilidade de serem agressivas.
Desse exame, resultam escalas como:
Gleason, no câncer de próstata
Bethesda/ATA, no câncer de tireoide
Nottingham, no câncer de mama
Cada escala ajuda a prever o potencial de crescimento e disseminação.
Um dos campos mais revolucionários da oncologia atual é o estudo dos genes e proteínas expressas pelos tumores.
Alterações específicas podem prever agressividade. Entre elas:
Grande instabilidade genética
Mutações em genes como BRAF, KRAS, TP53
Alta proliferação celular (índice Ki-67 elevado)
Perda de supressores tumorais
Perfis genômicos associados a maior risco
Esse tipo de análise já permite classificar tumores de mama, próstata, tireoide e pulmão com muito mais precisão do que há 10 anos.
Em alguns casos, a genética do tumor mostra que tratar imediatamente é essencial.
Em outros, revela que o câncer é tão lento que a vigilância ativa é a melhor escolha.
Exames como ultrassom, ressonância magnética e tomografia ajudam a prever o comportamento tumoral pela forma como o nódulo aparece:
bordas irregulares,
invasão de tecidos próximos,
vascularização aumentada,
crescimento acelerado em exames seriados.
limites bem definidos,
ausência de invasão,
ausência de crescimento ao longo do tempo.
É por isso que imagens repetidas em intervalos regulares são determinantes para decidir entre tratar ou acompanhar.
Nenhuma informação é mais valiosa do que o comportamento real do tumor observado durante semanas ou meses.
Tumores estáveis por longos períodos tendem a ser indolentes.
Tumores que dobram de tamanho rapidamente merecem intervenção imediata.
A vigilância ativa, discutida no artigo anterior, se baseia justamente nessa lógica.
O mesmo tipo de tumor pode ser agressivo em um órgão e indolente em outro.
Exemplo:
Microcarcinomas de tireoide tendem a ser indolentes.
Tumores semelhantes no pâncreas podem ser altamente agressivos.
O ambiente biológico influencia o comportamento.
Pacientes jovens com tumores de comportamento incerto podem se beneficiar de abordagens mais proativas.
Pacientes mais velhos com tumores pequenos e lentos podem viver anos sem qualquer impacto.
A medicina moderna considera não apenas o tumor, mas o indivíduo como um todo.
Hoje, pesquisadores usam IA para analisar imagens e sinais microscópicos invisíveis ao olho humano.
Novos algoritmos conseguem prever agressividade com precisão crescente, integrando:
genética,
tempo de duplicação,
padrões de imagem,
comportamento clínico.
Em poucos anos, será possível classificar tumores com margem de erro mínima — reduzindo ainda mais o risco de tratamentos desnecessários.
No próximo conteúdo da série, vamos abordar um tema central para pacientes e médicos:
Quais são os riscos reais de tratar um câncer desnecessariamente — e como evitar decisões precipitadas?