Baseado no Código Latino-Americano e Caribenho Contra o Câncer, o conjunto de recomendações defendido pela IARC e pela Organização Mundial da Saúde mostra que a maior parte dos casos de câncer pode ser evitada — mas não está sendo.
No primeiro artigo desta série, apresentamos o alerta da epidemiologista Elizabeth Wiederpass:
sem prevenção, nenhum país suportará o tsunami de câncer que se aproxima.
Os números sustentam a gravidade do aviso. Em 2022, o mundo registrou cerca de 20 milhões de novos casos de câncer e 10 milhões de mortes. A tendência é de crescimento acelerado, sobretudo em países de baixa e média renda, como o Brasil, onde o envelhecimento da população ocorre mais rápido do que a adaptação dos sistemas de saúde.
Diante desse cenário, a pergunta central é simples e incômoda:
se sabemos como prevenir grande parte dos casos, por que falhamos tanto nessa missão?
Reunidas no Código Latino-Americano e Caribenho Contra o Câncer, essas recomendações são baseadas em evidências científicas sólidas e apontam caminhos claros para reduzir o risco da doença.
1. Não fumar nem usar produtos derivados do tabaco
O tabagismo continua sendo a principal causa evitável de câncer no mundo.
2. Evitar a exposição à fumaça do tabaco
O fumo passivo também aumenta significativamente o risco de câncer.
3. Manter peso corporal saudável ao longo da vida
O excesso de gordura corporal está associado a diversos tipos de tumores.
4. Praticar atividade física regularmente e reduzir o sedentarismo
O movimento ajuda a regular hormônios, inflamações e o metabolismo.
5. Adotar uma alimentação saudável
Priorizar alimentos naturais e evitar ultraprocessados é uma das medidas mais eficazes.
6. Evitar ou reduzir ao máximo o consumo de álcool
Não existe dose segura de álcool quando se trata de câncer.
7. Amamentar, sempre que possível
A amamentação protege tanto a mãe quanto a criança.
8. Proteger-se do sol e evitar exposição excessiva
O câncer de pele está entre os mais comuns — e também entre os mais preveníveis.
9. Reduzir a exposição a agentes cancerígenos no ambiente de trabalho
Fiscalização, normas e uso de EPIs salvam vidas.
10. Evitar exames médicos com radiação sem real necessidade
O uso excessivo de radiação também eleva riscos.
11. Vacinar-se contra infecções associadas ao câncer
HPV e hepatites B e C estão ligados a vários tipos de tumores.
12. Participar de programas de rastreamento e diagnóstico precoce
Detectar cedo significa tratar melhor e com menos sofrimento.
As próximas recomendações deixam claro que a prevenção não é apenas uma responsabilidade individual.
13. Implementar políticas que desestimulem tabaco, álcool e ultraprocessados
Regulação e impostos são comprovadamente eficazes.
14. Garantir rótulos claros e advertências visíveis
Informação salva vidas.
15. Criar ambientes urbanos mais saudáveis
Cidades que estimulam movimento e alimentação saudável adoecem menos.
16. Investir em educação física e saúde desde a infância
Prevenção começa cedo.
17. Proibir publicidade de produtos nocivos voltada a crianças
A formação de hábitos começa na infância — e o marketing sabe disso.
Apesar das evidências, a prevenção segue sendo o elo mais fraco das políticas públicas. Tratar doenças ainda gera mais visibilidade política e econômica do que evitá-las — mesmo custando muito mais vidas e recursos.
A própria OMS estima que entre 30% e 50% dos casos de câncer poderiam ser evitados. Ainda assim, a maior parte dos investimentos continua concentrada no tratamento, não na prevenção.
O alerta de Elizabeth Wiederpass é claro e incômodo:
ou os países mudam agora, ou enfrentarão um colapso sanitário nas próximas décadas.
No Artigo 3 da série, vamos analisar por que a prevenção falha na prática, quem perde e quem ganha com esse modelo focado apenas no tratamento — e o que o Brasil precisaria mudar agora para evitar um colapso futuro.