O uso inadequado de antibióticos permite que bactérias, vírus e fungos evoluam e resistam aos tratamentos, tornando infecções mais perigosas e difíceis de combater.
No mundo das bactérias, tudo funciona como no universo da tecnologia: assim que um novo programa é criado para proteger computadores contra malware, os hackers aprendem a contorná-lo. Da mesma forma, quando usamos antibióticos de forma incorreta — seja por doses inadequadas, interrupção precoce do tratamento ou automedicação — os microrganismos patogênicos dentro de nós têm a chance de “atualizar seu firmware” e se tornarem resistentes aos medicamentos que antes os eliminavam.
Essa resistência a antibióticos é um problema global. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a resistência antimicrobiana (AMR) ameaça a prevenção e o tratamento eficaz de um número crescente de infecções causadas por bactérias, parasitas, vírus e fungos. Infecções comuns, como pneumonia, tuberculose, gonorreia e salmonelose, estão se tornando cada vez mais difíceis de tratar devido à resistência.
Para se ter uma ideia, em 1980 quase todas as cepas bacterianas eram sensíveis às penicilinas. Hoje, a resistência de pneumococos, por exemplo, é de cerca de 38% em média, e novos “superbugs” continuam surgindo em várias partes do mundo.
O impacto da resistência antimicrobiana é profundo: aumenta o risco de propagação de doenças, prolonga internações hospitalares, encarece tratamentos e eleva a mortalidade. Estudos globais, como o Projeto GRAM, estimam que a AMR poderia causar até 39 milhões de mortes nos próximos 25 anos se medidas efetivas não forem implementadas.
A prevenção é essencial. Isso inclui o uso responsável de antibióticos, vacinação adequada, higiene, saneamento e monitoramento contínuo da resistência. Novas pesquisas e desenvolvimento de medicamentos também são fundamentais para manter a eficácia dos tratamentos.
O mundo está em alerta: enquanto os micro-organismos evoluem, a humanidade precisa evoluir ainda mais rápido para proteger a saúde coletiva.