Após série científica da Netflix associar o consumo de carne a riscos à saúde e danos ambientais, Frimesa reage na Justiça. Discussão sobre alertas em rótulos de carnes processadas ganha força na Europa.
 A série “Você é o que Você Come: As Dietas dos Gêmeos”, disponível na Netflix, reacendeu o debate sobre os efeitos do consumo de carne e derivados na saúde humana e no meio ambiente. A produção, baseada em um estudo científico, acompanha gêmeos idênticos que adotam dietas opostas durante oito semanas — uma carnívora e outra vegetariana — para observar como o corpo e a mente reagem às mudanças alimentares.
Dirigida por Louie Psihoyos, vencedor do Oscar e conhecido por suas obras de denúncia ambiental, a série foi elogiada por seu rigor científico, mas provocou reação imediata de setores da indústria da carne. No Brasil, a Frimesa, uma das maiores cooperativas do país, ingressou com ação judicial contra a Netflix, alegando “dano à imagem” e “difamação indireta do setor”. A empresa reconhece abater cerca de 15 mil suínos por dia, o que, segundo especialistas ambientais, gera impactos significativos em termos de emissões e manejo de resíduos.
Os advogados da Netflix, do escritório BMA Advogados, sustentam que a série tem caráter informativo e cumpre o papel de alertar a sociedade sobre as consequências do consumo alimentar excessivo, com base em evidências científicas.
Enquanto a disputa jurídica se desenrola, cresce também o debate público. Em Londres, autoridades sanitárias discutem a possibilidade de exigir rótulos de advertência em produtos como bacon, presunto e salsichas, semelhantes aos usados em maços de cigarro. A medida teria o objetivo de alertar consumidores sobre o risco aumentado de câncer colorretal e doenças cardiovasculares associado ao consumo de carnes processadas.
A controvérsia mostra que a discussão ultrapassa fronteiras: não se trata apenas de economia ou imagem corporativa, mas de uma transição cultural global em torno da alimentação.
Como destaca um dos episódios da série, “o que comemos define não só quem somos — mas o futuro do planeta.”